Introdução
De acordo com Makarenko (2002) apesar do desporto infantil poder ser considerado
um poderoso fator de desenvolvimento do organismo e fortalecimento da saúde, o
enfoque competitivo de treinamento muitas vezes adotado pode causar, segundo o
mesmo autor, efeitos catastróficos na saúde do sujeito.
Neste sentido, Freudenheim (1995) afirma que as crianças estão cada vez mais
se especializando antecipadamente nos nados culturalmente determinados. Nesse
cenário, faltam pesquisas que comprovem a existência de uma especialização
cada vez mais severa em termos de padrões motores aquáticos (MANSOLDO, SILVA,
BONACELLA, TERTULIANO, VIEIRA & ALMEIDA, 2012).
Não se pode perder de vista que o organismo das crianças e adolescentes passa
por diversas modificações durante o período maturacional. O profissional
envolvido no desenvolvimento de aulas para este grupo deve estar atento a isto,
visto que neste período existem momentos mais oportunos para o ensino de
determinadas técnicas, fundamentais para a Natação. (ARSHAVSKI, 1980 apud
MAKARENKO, 2001).
Objetivo
O presente estudo objetiva descrever a média de tempos obtida em provas do nado
Borboleta em alunos que freqüentam aulas de natação diariamente.
Materiais
e métodos
Foram coletados dados ao longo de 12 anos, com aproximadamente 2.000 crianças e
adolescentes com faixa etária entre 10 e 15 anos, que participaram dos
Festivais de Natação da EEFEUSP, que foram realizados semestralmente na Escola
de Educação Física e Esporte da USP - Departamento de Esporte - Curso
Comunitário de Natação.
As coletas foram realizadas em piscina curta (25 metros), coberta e aquecida com
quebra-ondas laterais. Foram analisadas as provas de nado Borboleta,
investigando-se o nível de desempenho em cada faixa etária.
Os dados foram analisados pelo programa Excel contido no pacote Windows
2003-2007, onde os mesmos foram registrados via médias e desvios padrão.
Delineamento
Não foram adotados tratamentos diferenciados para os grupos. O experimento
constitui-se para todos (Masculino e Feminino) na execução da tarefa,
percorrer 25m nadando Borboleta. Todos os estímulos foram dados a 100% de sua
velocidade. Importante ressaltar que os alunos não treinavam essa
potencialidade (Potência anaeróbia), haja vista, que as aulas (seus treinos)
são oferecidas duas vezes por semana com duração de 45 minutos com o caráter
aeróbio durante suas execuções. A seqüência das provas foi estabelecida
pela comissão organizadora do evento.
As provas foram monitoradas via cronometro digital da marca “CASIO” por
árbitros (alunos de Educação Física) da própria escola. O balizamento
seguiu o modelo da Federação Aquática Paulista (F.A.P.) para fins de
organização dos tempos. Os tempos foram anotados em planilhas controladas pela
arbitragem da prova, as quais estão arquivadas em arquivo digital.
Resultados
Os resultados a seguir estão apresentados em formato de médias das
tentativas e desvios padrões de todas as provas do nado Borboleta durante
eventos realizados na Escola de Educação Física e
Esporte - Universidade de São Paulo (USP) EEFEUSP, no período de junho
de 1998 a junho de 2010.
Figura
1. Média da soma de tempos na prova dos 25 metros nado borboleta feminino
até 10 anos realizado nos eventos de Junho de 1998 até Junho de 2010
Observando a Figura 1, média do tempo total na prova dos 25m nado Borboleta
feminino até 10 anos, a média de todas as tentativas corresponde ao tempo de
25”68 (± 2,33). Observou-se uma queda do tempo total das provas durante esses
12 anos de realização desse evento de 30”24 para 21”12, sendo que o
último corresponde ao pico de desempenho, em Junho de 2010.
Figura
2. Média da soma de tempos na prova dos 25 metros nado borboleta masculino
até 10 anos realizado nos eventos de Junho de 1998 até Junho de 2010
Observando a Figura 2, média do tempo total na prova dos 25m nado Borboleta
masculino até 10 anos, a média de todas as tentativas corresponde ao tempo de
26”94 (± 1,98). Observou-se uma oscilação nos resultados das provas durante
esses 12 anos de realização desse evento, com maior média de tempo em Junho
de 2002, 30”79, e pico de desempenho em Junho de 2006, com o tempo de 23”66.
Figura
3. Média da soma de tempos na prova dos 25 metros nado borboleta feminino
até 11 anos realizado nos eventos de Junho de 1998 até Junho de 2010
Observando-se a Figura 3, média do tempo total na prova dos 25m nado Borboleta
feminino até 11 anos, a média de todas as tentativas correspondem ao tempo de
23”71 (± 1,49). Observou-se uma oscilação do desempenho durante os anos de
realização desse evento, com queda abrupta entre Junho de 2003 (25”79) e
Junho de 2005 (21”33), quando houve o pico de performance.
Figura
4. Média da soma de tempos na prova dos 25 metros nado borboleta masculino
até 11 anos realizado nos eventos de Junho de 1998 até Junho de 2010
Observando-se a Figura 4, média do tempo total na prova dos 25m nado Borboleta
masculino até 11 anos, a média de todas as tentativas corresponde ao tempo de
24”47 (± 2,03). Observou-se uma grande variabilidade no tempo total das
provas durante esses 12 anos de realização desse evento, sendo que nos
extremos pode-se verificar um aumento: de 24”34 segundos para 27”02
segundos. Obteve-se o pico de performance em junho de 2008 com o tempo de 21”78.
Figura
5. Média da soma de tempos na prova dos 25 metros nado borboleta feminino
até 12 anos realizado nos eventos de Junho de 1998 até Junho de 2010
Observando-se a Figura 5, média do tempo total na prova dos 25m nado Borboleta
feminino até 12 anos, a média de todas as tentativas corresponde ao tempo de
21”19 (± 1,75). Observou-se uma diminuição no tempo total das provas
durante esses 12 anos de realização desse evento de 23”98 segundos para 20”85,
Obtendo-se o pico de desempenho em junho de 2008 com o tempo de 18”55.
Figura
6. Média da soma de tempos na prova dos 25 metros nado borboleta masculino
até 12 anos realizado nos eventos de junho de 1998 até junho de 2010
Observando-se a Figura 6, média do tempo total na prova dos 25m nado Borboleta
masculino até 12 anos, a média de todas as tentativas corresponde ao tempo de
22”57 (± 1,58). Pode-se verificar um pequeno aumento no tempo total das
provas durante esses 12 anos de realização desse evento de 21”54 segundos
para 22”90 segundos. Obtendo-se o pico de performance em Junho de 2003 com o
tempo de 19”24.
Figura
7. Média da soma de tempos na prova dos 25 metros nado borboleta feminino
até 13 anos realizado nos eventos de Junho de 2002 até Junho de 2010
Observando-se a Figura 7, média do tempo total na prova dos 25m nado Borboleta
feminino até 13 anos, a média de todas as tentativas corresponde ao tempo de
20”59 (± 1,94). Observou-se uma queda significativa no tempo total das provas
durante os 8 anos de coleta com esta faixa etária, de 20”51 segundos para 16”52
segundos, sendo que este último corresponde ao pico de performance.
Figura
8. Média da soma de tempos na prova dos 25 metros nado borboleta masculino
até 11 anos realizado nos eventos de Junho de 2002 até Junho de 2010.
Observando-se a Figura 8, média do tempo total na prova dos 25m nado Borboleta
masculino até 13 anos, a média de todas as tentativas corresponde ao tempo de
19”31 (± 0,88). Inicialmente os sujeitos apresentaram média de tempo de 19”38
segundos, e na última edição analisada, um ligeiro aumento para 19,73
segundos, obtendo-se o pico de performance em junho de 2008 com o tempo de 18”19.
Figura
9. Média da soma de tempos na prova dos 25 metros nado borboleta feminino
entre 14 e 15 anos realizado nos eventos de junho de 2002 até Junho de 2010
Observando-se a Figura 9, média do tempo total na prova dos 25m nado Borboleta
feminino entre 14 e 15 anos, a média de todas as tentativas corresponde ao
tempo de 20”05 (± 1,25). Observou-se uma grande variabilidade no tempo total
das provas durante os 8 anos de coleta com essa faixa etária: de 18”54 para
19”57, obtendo-se o pico de performance em Junho de 2007 com o tempo de 18”41
segundos.
Figura
10. Média da soma de tempos na prova dos 25 metros nado borboleta masculino
entre 14 e 15 anos realizado nos eventos de Junho de 2002 até Junho de 2010
Observando a Figura 10, média do tempo total na prova dos 25m nado Borboleta
masculino entre 14 e 15 anos, a média de todas as tentativas corresponde ao
tempo de 17”23 (±0,77). Observou-se uma queda abrupta entre Junho de 2003 (17”79)
e Junho de 2004 (15”63), seguida por aumento a partir daí até Junho de 2006
(18”19). Durante os 8 anos de coletas com esta faixa etária, observou-se
pequeno aumento do tempo, obtendo-se o pico de performance em Junho de 2004.
Discussão
De acordo com Maglischo (2010) a resposta ao treinamento depende da faixa
etária. Analisando os resultados expostos acima, pode-se verificar uma grande
variabilidade entre as faixas etárias, estando, contudo, a diminuição do
tempo proporcional ao avançar da idade. Pode-se observar ainda que a média de
tempos do sexo masculino torna-se menor do que a das mulheres a partir dos 13
anos, conforme ilustra o gráfico abaixo:
Figura
11. Comparação entre a média dos tempos masculino e feminino no nado
borboleta entre 10 e 15 anos
Conclusão
Concluindo, elaboramos as tabelas abaixo com o intuito de dar subsídios a
futuros trabalhos que visem observar o rendimento da Natação nas diversas
faixas etárias, feminino (Tabela 1) e masculino (Tabela 2) por nós observados
nas distâncias de 25 metros no nado Borboleta, as quais inexistem como
referencial teórico nacional. Podendo também tais referenciais ser de extrema
utilidade na detecção de talentos através da simples avaliação de
desempenho, não sendo considerado para tanto, nenhum regime de treinamento.
Detectando assim, talentos da Natação, que por ventura, venham extrapolar
positivamente esses valores, denotando grande aptidão para o desenvolvimento de
um futuro treinamento desportivo. Não esquecendo que treinamento de velocidade
(anaeróbio) só é recomendado para atletas púberes ou pós-púberes (MALINA E
BOUCHARDT, 2002)
Tabela
1. Média de tempo em segundos e desvio padrão das provas de 25 metros nado
Borboleta feminino entre 10 e 15 anos
Tabela
2. Média de tempo em segundos e desvio padrão das provas de 25 metros nado
borboleta masculino entre 10 e 15 anos
Referências
-
FREUDENHEIM,
A. M. O Nadar: uma habilidade motora revisitada. São Paulo: Cepeusp,
1995.
-
MAGLISCHO,
E. W. Nadando o mais rápido possível. Ed. Manole, 2010.
-
MALINA,
R.M; BOUCHARD, C. Atividade física do atleta jovem: do crescimento à
maturação. Editora Roca. São Paulo, 2002.
-
MAKARENKO,
L. P. Natação: Seleção de talentos e iniciação desportiva.
Porto Alegre. Artmed Editora, 2001.
-
MANSOLDO,
A. C. A iniciação dos 4 nados. Editora Ícone, 2010.
-
MANSOLDO,
A.C.; SILVA,C.G.S.; BONACELLA, P.H.; TERTULIANO, I.W.; VIEIRA, S.V.;
ALMEIDA,V.R.; Estudo do tempo médio do nado costas em crianças de
diferentes faixas etárias nas provas de 25 metros: analise longitudinal.
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 165. http://www.efdeportes.com/efd165/estudo-do-tempo-medio-do-nado-costas-25-metros.htm
-
SILVA,
C.G.S. ET. AL. Natação: Os 4 nados, Saídas, Viradas e chegadas.
Editora Fontoura, 2011.
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